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  • Luiz Henrique Luchetta Gramazio

Bolhas Especulativas e o Pensamento Contrário


Atualmente, temos vivido o início de uma recuperação da economia mundial acompanhada de uma recuperação das bolsas pelo mundo todo, após a grande queda ocorrida em 2020 por conta da pandemia COVID-19. Em outros momentos da história ocorreram também quedas nos mercados financeiros causadas pela intensa especulação, que gera as chamadas Bolhas Especulativas.

Especulação: é a pressuposição acerca de algo sem comprovação. No caso do mercado, é a pressuposição acerca dos movimentos dos preços, ou seja, um especulador compra/vende suas ações pressupondo que os preços irão subir/cair, buscando lucrar com tal situação.


As bolhas especulativas ocorrem quando os preços de determinado ativo ou mercado apresentam um rápido aumento dos preços motivado, a princípio, por motivos fundamentalistas, mas logo guiado por notícias, boatos e ganância por parte de pessoas que não querem ficar de fora da festa, e especuladores que querem apenas se aproveitar da alta para comprar ativos a um preço e vende-los a preços maiores, independentemente de motivos racionais de investimento, comprando e vendendo a preços cada vez mais altos.


Quanto mais as pessoas compram, mais os preços sobem. Contudo, em algum momento os investidores que já possuíam os ativos decidem realizar seus lucros, iniciando a venda dos ativos e fazendo com o que os preços caiam. Essa queda gera medo nos investidores que ainda seguram suas posições, os quais, motivados por esse medo, vendem seus ativos, fazendo com que o pânico seja generalizado e os preços caiam mais ainda, criando uma espiral em que a queda do preço causa medo e o medo causa a contínua queda dos preços. Quando acaba a subida dos preços e a queda acentuada se inicia, diz-se que a bolha estourou.


Há alguns fatores que auxiliam na queda dos preços durante a fase de estouro da bolha. São eles: o uso de margens para negociações e as vendas a descoberto.


Uso de margens para negociações: é quando se compra ou vende ativos usando apenas uma porcentagem do valor inteiro da operação, por exemplo: o investidor quer comprar 1 ação por 10 reais, e é oferecida a ele uma margem de 10%, portanto ele deve pagar apenas 1 real. No entanto, quando suas perdas equivalem ao valor da margem paga, ocorre a chamada de margem, em que ele deve aumentar o valor ou sua operação é liquidada, fazendo-o perder todo o valor alocado).

Venda a descoberto: Quando o investidor faz o aluguel de ações de um outro, e as vende, apostando em sua desvalorização. Dessa forma o lucro vem através da diferença de valor entre a venda e a recompra de ações após a queda dos preços. Por isso os especuladores experientes aproveitam as quedas do mercado para vender a descoberto e lucrar em cima da situação, favorecendo ainda mais a queda dos preços.


Alguns casos históricos e famosos de bolhas especulativas são:


A Bolha das Tulipas


Provavelmente o Primeiro crash (queda abrupta dos preços de uma bolsa de um mercado financeiro) e a primeira bolha especulativa a ser documentada na história.


A bolha das Tulipas ocorreu no Século XVII na Holanda, e teve início a partir de tulipas importadas da Turquia, as quais após serem infectadas por um vírus se tornaram artigos raros e apreciados pela população.

Com essa apreciação e raridade, os holandeses começaram a comprar tulipas, o que naturalmente fez com que os preços subissem. Entretanto, mesmo com a subida dos preços muitas pessoas e famílias continuaram comprando as flores, inclusive se desfazendo de seus bens para tal, sendo levados pela suposição de que poderiam vendê-las por preços ainda maiores. Dessa forma, os preços chegaram a aumentar 30 vezes em apenas 1 mês.


Em determinado período, investidores mais prudentes venderam suas tulipas, o que fez com que o preço sofresse uma correção. Esta fez com que outros investidores, assustados com a queda nos preços, vendessem também suas flores, causando pânico e gerando mais vendas a valores mais baixos, levando-os a praticamente zero.

Como consequência da quantidade de pessoas que haviam perdido muito, ou até todo o seu dinheiro, a Holanda passou por um período de depressão econômica.


(No gráfico acima é possível identificar o período do ocorrido e a variação dos preços.)

O Crash de 1929


Queda do Índice Dow Jones. (Fonte: Macrotrends)
Queda do Índice Dow Jones. (Fonte: Macrotrends)

Após o fim da 1ª Guerra Mundial, com a vitória dos aliados, se iniciava nos Estados Unidos uma fase de consumismo, com as fábricas a todo vapor e as famílias com renda para o consumo e lazer. Como consequência, as negociações na bolsa de valores de Nova Iorque aumentaram, e a população começou a alocar seu capital em ações, seja com o objetivo de investir ou especular.


Nessa época a especulação no mercado acionário havia se tornado um passatempo, e a possibilidade de compras de ações na margem (a qual permitia que mais pessoas negociassem e negociassem maior volume de ações), fazia com que os preços subissem descontroladamente.

No período final da bolha já haviam acontecido correções nos preços, porém novas máximas continuavam sendo alcançadas. No dia 3 de setembro se iniciou a queda que levaria ao estouro da bolha e uma depressão econômica que afetou os EUA e o resto do mundo.


Curiosidade: O Grande especulador Jesse Livermore que ficou conhecido como “The Wall Street Bear” (O urso de Wall Street), em 1929, apostando na queda do mercado, montou posições de venda a descoberto em diversas ações americanas, o que o possibilitou de em plena a crise atingir um patrimônio de cerca de 100 milhões de dólares, equivalente a cerca US$1,4 bilhões atualmente. Na época ele havia se tornado um dos homens mais ricos do mundo.


O apelido de urso vem dos jargões de mercado: bulls (touros) e bears (ursos), vindos da ideia de que o mercado é uma constante luta entre touros e ursos, onde os touros atacam com seus chifres de baixo pra cima (que sinalizam a alta do mercado) e os urso de cima pra baixo (sinalizando a queda). Um Bull Market seria o mercado em alta e o Bear Market seria o mercado em baixa.


Bolha Dot-Com (Bolha das empresas de tecnologia)


Seguindo a mesma lógica dos casos anteriores, nos anos 90, com o advento da internet, os investidores começaram a investir e especular em ações desse ramo. Mais uma vez a irracionalidade dos mercados fez os preços subirem rapidamente, culminando, no mês de março de 2000, em um mercado de baixa que causaria uma desvalorização de quase 80% no índice Nasdaq, que é a segunda maior Bolsa de Valores dos EUA, e é onde estão listadas a maioria das empresas do ramo de tecnologia.


O que poderia explicar esse padrão?

De acordo Humphrey Neil, criador da teoria da opinião contrária, contida no livro The Art of Contrary thinking, a multidão geralmente está certa em muitos períodos de tempo dentro do mercado. Contudo, na maioria das vezes está errada quando se trata de extremos e de pontos de virada. Segundo Neil, “Quando todos pensam da mesma forma, é provável que todos estejam errados. Quando as massas sucumbem a uma ideia, frequentemente, são influenciadas pelas suas emoções. Quando as pessoas param de pensar sobre as coisas, são muito semelhantes em seus pensamentos."

A irracionalidade da multidão pode ser explicada pelo fato de as pessoas involuntariamente seguirem os impulsos da multidão. O ser humano como ser social, tende ao contágio e a imitação de seus pares, principalmente se exposto a um grupo com atitudes ou opiniões uniformes. Quando reunidos como um grupo ou multidão, os indivíduos raramente se questionam ou pensam por si só sobre tal situação, pelo contrário, tendem a simplesmente seguir irracionalmente o que é apresentado ou afirmado a eles.

E o que podemos fazer para nos protegermos de sucumbirmos aos erros da multidão?


Segundo os estudiosos desse tema, a solução seria a formulação de uma opinião contrária em relação ao pensamento da multidão, mesmo que seja difícil de fazê-lo.


Martin Pring em seu livro Technical Analysis Explained, coloca como princípio técnico fundamental que um bom pensador contrário não deve ser contrário apenas por ser, mas deve aprender a pensar em sentido inverso e agir criativamente na criação de cenários alternativos em relação ao cenário seguido pela multidão.


São três os principais passos a se seguir:


1- Descobrir o que a multidão pensa: deve-se tentar obter um consenso sobre a opinião a respeito do mercado ou de um ativo específico que você pretende monitorar. Isso pode ser feito observando as avaliações dos investidores e até de “gurus” do mercado. Também é interessante acompanhar os meios de comunicação, principalmente a mídia financeira. Se as visões expressadas pela mídia são claras demais, e até afirmando certezas, é bem provável que um extremo esteja próximo.


2- Formar cenários alternativos: a partir do momento em que se sabe o que a multidão pensa, é o momento de pensar se a opinião comum pode estar errada, e caso este seja o caso, buscar elaborar numa nova tese. Esse processo demanda compreensão do mercado e do ativo que está sendo analisado. Portanto deve-se analisar a situação e resultados da empresa, e no caso do mercado geral, os aspectos macroeconômicos como inflação e taxa de juros e mercados correlacionados. (Pring também defende em seu livro o uso de indicadores técnicos usados na análise técnica e outros artifícios específicos dessa vertente de estudo do mercado.)


3- Descobrir quando a multidão chega a um extremo: por último deve-se identificar quando o extremo foi atingido. Um extremo, seria quando a multidão entra em consenso na conclusão precipitada de que a tendência vai continuar indeterminadamente. Para isso existem alguns indicadores a se levar em conta (na opinião de Pring):


- Verificar a mídia (popular e financeira): quando a mídia começa a demonstrar coberturas mais significativas sobre certa ação ou mercado, é hora de ficar atento para o surgimento de um extremo. Historicamente grandes topos de mercado foram acompanhados por histórias de coberturas na imprensa. Isso geralmente acontece pelo fato de esse tipo notícia ganhar relevância quando as emoções em relação ao mercado estão mais intensas. No entanto, é claro que toda análise deve ser bem feita com bom senso e levando em conta todas as outras diversas variáveis.

- Livros Best-Sellers: o fato de livros da área de finanças estarem figurando na lista dos mais vendidos, é um sinal de que determinado mercado pode estar chamando a atenção da população e que uma boa ou má notícia foi incorporada nos preços.

- Avaliações Irrealistas: quando determinado mercado atinge um nível histórico de valorização ou desvalorização excessiva, é um dos sinais finais de que a multidão chegou a um extremo.

Por último...

A multidão uma hora ou outra chega em um extremo no mercado de alta, e em algum momento os preços caem até um outro extremo no mercado de baixa, gerando eventos como as bolhas especulativas. Portanto vale a pena nos mantermos vigilantes quanto ao comportamento da multidão, e nos mantermos com pensamento crítico, para que consigamos aproveitar os movimentos do mercado na hora certa e nos mantermos seguros nos piores momentos do mercado.


 
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